Pacientes denunciam golpes com falsos óleos de cannabis na internet

Por Marcus Bruno

Mesmo que seja proibida a venda direta no Brasil sem autorização, a internet está repleta de ofertas de óleos com CBD e THC medicinal, desde as redes sociais até serviços como OLX e Mercado Livre. Essas plataformas excluem os anúncios ilegais, mas não na mesma velocidade com que os fornecedores voltam a publicá-los. Muitos desses produtos, no entanto, não possuem qualquer valor medicinal, são óleos sem uma gota de cannabis. E pacientes que não têm condições de importar o medicamento e se submetem ao mercado clandestino acabam sendo vítimas de um golpe.

É o caso da aposentada Eliana Américo, de 55 anos, moradora de São Paulo. A mãe dela é portadora de Alzheimer em estágio avançado. Conta que a idosa é bastante agitada e traz muitas dificuldades à família. Quando descobriu o tratamento com cannabis medicinal, Eliana procurou um neurologista que indicou o medicamento nacional, produzido pela Abrace. No entanto, a associação está com uma fila de espera muito grande, e o importado sairia por R$ 1.700 por mês. Foi quando procurou ajuda nas redes sociais.

“Surgiu um grupo chamado CBD Saúde. Conversei com eles, e disseram que podiam me fornecer. Mandei a receita e pediram a transferência bancária para estar enviando. Era R$ 150”, contou ao portal Sechat.

Segundo Eliana, o líquido era claro e não tinha cheiro nem gosto. Passados 45 dias, o óleo não surtiu qualquer efeito.

“Fui entrar em contato com eles e estava bloqueada. Depois o perfil sumiu. Comentei nas redes sociais e outras pessoas também disseram que sofreram o mesmo golpe. Eu vou denunciar na delegacia de crimes virtuais. Não é porque você está pagando por uma alternativa que você tem que se sujeitar a isso. Podem até alegar que é o produto ilegal, mas não deixa de ser uma fraude”.

Relatos se multiplicam nas redes

Nos grupos de pacientes, os relatos de vítimas de golpe se repetem. Por serem comunidades fechadas, não divulgaremos os nomes dos pacientes.

“Tive muitos problemas para receber o óleo, e quando chegou veio sem rótulo, reclamei e ela me mandou outro, só que tinha gosto de óleo de soja, entrei em contato com (…) a pseudo dona da empresa, vou dizer que foi uma novela por fim consegui um óleo com CBD e THC, usei durante um período, mas não fez efeito nenhum, nem sono, nem fome e nem diminuição da dor”, relatou uma paciente.

“Comecei a usar o CBD e pareceu funcionar. Quando fui pedir pela segunda vez eles me enviaram óleo de cozinha no lugar. Quando fui reclamar dizendo que era diferente, não tinha cheiro nem cor, ela tentou por um tempo me convencer que se tratava de um tipo diferente de planta, mas que era pra continuar tomando. Obviamente não teve efeito nenhum e quando fui reclamar, me bloquearam e sumiram” denunciou outra vítima, cujo diálogo está reproduzido na foto acima.

Paciente diz que fornecedor anunciou frasco com rótulo mas lhe entregou sem

Fornecedor nega qualquer adulteração no óleo

A CBD Saúde não possui mais qualquer site ou página nas redes sociais, e por isso não foi possível localizá-la. Outra marca denunciada pelos pacientes é a King Green, com sede no Uruguai e que vende para brasileiros. Apesar de diversos pacientes relatarem melhoras com o óleo desta marca, outros reclamaram de produto falso. O portal Sechat conversou com a responsável pela empresa, que negou qualquer adulteração nos produtos. Disse que a King Green é totalmente legal no Uruguai e que busca a formalização no Brasil, através da criação de uma ONG.

A representante alega é vítima terceiros que usam a sua marca. Citou que recentemente um cliente comprou 20 frascos do seu óleo e que ele pode ter adulterado o conteúdo:”acredito que foi uma pessoa que agiu de má-fé, que comprou, adulterou e revendeu”.

“O que eu gostaria que você publicasse é que as pessoas têm que ter consciência se a mercadoria foi adesivada e rotulada. Se ela não foi adesivada nem rotulada, nós não temos como dar garantia, nem respaldo a essa pessoa. (…) Nós fazemos um trabalho bastante sério há bastante tempo”, garantiu a mulher, que não autorizou a divulgação de seu nome. 

Pacientes devem procurar médico e a Justiça

A médica Paula Dall’Stela, pioneira na terapêutica canábica no Brasil, orienta que os pacientes não devem nenhum produto de origem indevida:

“A gente não sabe o que tem no solo, qual o solvente foi usado, se tinha pesticida. No mercado ilegal o controle de qualidade é zero.”

A profissional de saúde explica que os pacientes que precisam de cannabis medicinal devem primeiro passar por uma consulta médica, buscar a documentação para entrar com pedido de importação pela Anvisa. Caso a família não tenha condições de importar o medicamento, deve procurar um advogado ou a defensoria pública para pleitear através da Justiça, que o Estado forneça a medicação gratuitamente pelo SUS.

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