
A cannabis sempre foi conhecida por suas variedades aromáticas, e por décadas, os terpenos foram os principais suspeitos de dar a essas plantas suas fragrâncias distintas. No entanto, uma recente pesquisa conduzida pela American Chemical Society sacudiu o mundo da botânica e da indústria da maconha, ao revelar a existência de “compostos de cannabis nunca antes descobertos.”
O estudo, publicado na revista ACS Omega, argumenta que os terpenos, embora desempenhem um papel importante na definição dos aromas da cannabis, têm sido superestimados.
“Eles não contam toda a história”, dizem os autores do estudo. O que realmente parece determinar os aromas únicos são os produtos químicos voláteis, que se dispersam facilmente pelo ar, uma verdadeira sinfonia química.
Os pesquisadores mergulharam profundamente em 31 extratos congelados de resina de haxixe, revelando um mundo previamente desconhecido de compostos não terpenoides que influenciam profundamente as propriedades aromáticas da cannabis. Uma nova classe de canabinóides, os Compostos Voláteis de Enxofre (CVE) e o escatol (3-metilindol), emergiu como protagonistas nesse drama aromático.
Os CVEs, encontrados principalmente em variedades com aroma cítrico ou de frutas tropicais, contribuem de forma significativa para a riqueza olfativa dessas cepas. No entanto, o escatol, um composto altamente pungente, é o segredo por trás das variedades que exalam aromas “salgados/químicos”.
Essas descobertas não são meramente acadêmicas. Elas têm o potencial de transformar a indústria da cannabis. A classificação das cepas, a autenticidade da maconha e a criação de perfis aromáticos precisos se tornarão mais refinados, beneficiando produtores, reguladores e, é claro, os usuários.
“Após a análise de nosso painel sensorial, junto com os dados analíticos, tornou-se evidente que os terpenos, embora essenciais para criar muitos dos aromas típicos da cannabis, não são o único fator diferenciador de variedades com aromas distintos”, explicou TJ Martin, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento na empresa de extrações Abstrax.
Além disso, essa pesquisa pode impulsionar avanços na terapia com cannabis. Ela pode abrir novos caminhos para entender como compostos químicos específicos afetam a planta e, por consequência, os pacientes.
Embora o mundo da cannabis enfrente desafios regulatórios, essas descobertas inspiram esperança e inovação, abrindo as portas para um futuro em que a terapia com os derivados da planta seja mais eficaz e as variedades sejam apreciadas não apenas por seu aroma, mas também por seu potencial terapêutico.