Por Caroline Apple
Confesso que ao ser convidada para ir a um clube de negócios da Cannabis eu não sabia bem o que esperar. Por ser um clube, eu já sai do estereótipo marginalizado dos lugares que frequentei no passado relacionados à maconha e acabei imaginando um lugar mais “sofisticado”.
Num primeiro momento, foi impossível eu não imaginar um local fechado em algum lugar bacana da cidade, cheio de fumaça, com diversos homens e algumas poucas mulheres fechando parcerias, falando sobre o futuro do mercado da Cannabis no mundo, tomando uma dose de destilado. Tudo bem! Fui longe. Mas o que você imagina?
Bom, esteja preparado para desconstruir os cenários férteis da imaginação e embarcar num ambiente bem mais “careta”. Thiago Ermano, gestor do Clube Cannabusiness, sabe que é comum esse tipo de pensamento. Ao fazer a abertura do Happy Hour promovido pelo clube, na noite de quarta-feira (29), em um restaurante nos Jardins, em São Paulo, Thiago brinca: “Tem gente que acha que a gente vai puxar um cigarrão aqui do bolso. Não é esse o objetivo”.
Homens e mulheres de diversas idades e áreas, como jurídica, médica, vendas, comunicação, além de curiosos, estavam ali em busca de informação sobre o mercado de Cannabis e para descobrir como fazer parte dele. Outras associações e organizações que atuam no tenro ramo no Brasil trocavam informações e cartões de visita.
O gestor conta que o clube nasceu em setembro de 2019 com o intuito de reunir pessoas interessadas no mercado de Cannabis num ambiente sem a hostilidade que a desinformação tende a gerar, trazendo mais segurança e sensação de estabilidade para quem quer entrar no mercado, mas ainda não sabe como.
“Para reunir o público interessado nessa proposta, fazemos um happy hour mensalmente e reuniões focadas na metodologia para ajudar a desenvolver negócios, dar oportunidade para quem quer trabalhar no setor e atrair investidores que querem apostar na causa. Isso é uma causa, não só um mercado”, afirma Ermano.
Atrás de negócios e saúde

Entre as cerca de 60 pessoas presentes no encontro, estava a aposentada Elizabeth Conceição Gutierre, de 69 anos. Quem olhava para ela e seu estilo sofisticado e toda maquiada não imagina que ali “mora” uma mulher que sofre com dores crônicas por conta do quadro de fibromialgia. Foi por intermédio de uma prima, que mora nos EUA, que soube dos benefícios na Cannabis em casos como o dela e, por isso, decidiu conhecer o clube.
“Tomo remédio desde 2007 e não melhoro. Soube que essas gotinhas tirariam minhas dores, que me deixam depressiva, sem dormir direito. Vim com meus filhos com a intenção de saber como eu consigo o óleo de forma legal e também com intenção de investir, representar, e conhecer o mercado”, afirma a aposentada.
Na outra ponta está a produtora de eventos Camila Forte, de 29 anos, que foi com um grupo de amigos entender o que acontecia num clube de negócios da Cannabis. Camila é idealizadora da festa Feliz 420, que reúne pessoas a favor da legalização e descriminalização da maconha para todos os fins, inclusive o adulto.
“Vim entender e conhecer. É tudo muito novo para pessoas como eu, que já está batalhando pela descriminalização e naturalização da maconha, seja ela medicinal ou recreativa. Eu vim conhecer esse clube de negócios para ver como as pessoas se ajudam e saber se eu também posso ajudar alguém para acrescentar na luta que a gente está junto. Virou uma coisa só”, diz Forte.
Peneira para entrar

Meu imaginário forjado no conceito de patriarcado quando o assunto é o mundo dos negócios teve que dar uma trégua. Quem coordena nacionalmente e regionalmente o Clube de Cannabusiness são duas mulheres.
Vanessa de Araújo Martins, de 38 anos, é a coordenadora nacional do Clube de Cannabusiness, da rede Clube Cannabistas.
A coordenadora afirma que para entrar no clube é preciso passar por algumas etapas avaliatórias, para que possam entender como a pessoa pode colaborar para dar mais sustentação e credibilidade ao clube.
“Estamos formando um ecossistema. Estamos fazendo conexões. Trazemos pessoas sérias, profissionais sérios para tratar a respeito do assunto. Queremos que o mercado cresça para ajudar o maior número de pessoas a ter mais qualidade de vida com um valor mais acessível”, explica Martins.
Quem topar e quiser encarar a “peneira” deve ser empreendedor, empresário ou ter alguma conexão com o grupo. “Fazemos uma entrevista para entender o negócio dele, se vai agregar com o grupo. Aí ele pode fazer uma adesão ao clube e se tornar um associado”, diz a coordenadora.
Os valores da mensalidade não são divulgados. Hoje, a plataforma de comunicação mais efetiva do clube é um grupo de WhatsApp que está lotado. O grupo conta com quase 257 participantes, entre sócios, pacientes, médicos e outros interessados no setor.
“Além do grupo, falamos de negócios da Cannabis e Cannabis Medicinal com uma comunidade formada por mais de 20 mil pessoas e acionamos mais de 300 mil pessoas mensalmente com o apoio do movimento Cultura Empreendedora”, finaliza Ermano.